terça-feira, 23 de novembro de 2010

LECTIO DIVINA E NOSSA HERANÇA DOUTRINÁRIA - CAMINHOS E APONTAMENTOS.

É de suma importância o cristão se aprofundar na Lectio Divina para o seu conhecimento e discernimento. A Lectio Divina significa a Leitura Divina da Bíblia, com fidelidade que alimenta a sua fé, esperança e amor. Essa leitura sempre foi a espinha dorsal da cristandade.

No livro de Deuteronômio está registrado que “A palavra está muito perto de ti: na tua boca, e no teu coração para que ponhas em prática” (Dt. 30.14). Na boca, pela leitura; no coração, pela meditação e; pela oração e na prática pela contemplação.



Essa é a base da Lectio Divina, pois o seu objetivo é comunicar a sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo o Senhor (II Tm. 3.15), como também instruir, refutar, corrigir, formar na justiça e, assim, qualificar o homem de Deus para toda boa obra (II Tm. 3.16-17); também para proporcionar perseverança, consolo e esperança (Rm. 15.4) e, por fim, para ajudar-nos a aprender dos erros dos antepassados (I Cor. 10.6-10).


A Lectio Divina possui quatro fundamentos básicos para o nosso conhecimento de Deus e da sua vontade:


- Leitura: Devemos compreender que o primeiro passo para a compreensão bíblica é a leitura. A leitura faz com que eu e você conheçamos e amemos a Palavra de Deus. Alguém já disse que não se ama o que não se conhece. Assim, a leitura deve ser perseverante e diária. Esse fundamento é de suma importância para a comunidade da fé;


- Meditação: A leitura se preocupa com o que diz o texto? A meditação vai responder à pergunta sobre o que o texto está dizendo? É na meditação que conseguimos perceber o que Deus está dizendo para nós hoje (Lc.2.19).


- Oração: Tudo deve ser regado com oração, fundamento central de tudo. Na leitura e na meditação Deus fala conosco; na oração, nós falamos com Deus. A oração é a nossa resposta para a inquietação que a palavra de Deus cria no nosso coração. Na oração exteriorizamos que dependemos completamente de Deus em tudo e, principalmente, da compreensão da sua palavra, através do Santo Espírito que nos ensina em tudo;


- Contemplação: Na contemplação, olhamos o mundo pela ótica divina, uma vez que a leitura, a meditação e a oração geram em nós uma nova visão do mundo. A contemplação não só medita na palavra, mas também realiza; não só ouve, mas também as pratica; na contemplação, não nos afastamos do mundo, mas olhamos o mundo de maneira divina, encarnando o nosso papel de ser sal e luz do mundo;


Assim, para que haja crescimento em nós, precisamos ler a Bíblia diariamente. Não podemos cair na armadilha de que já sabemos tudo, que não precisamos de mais nada. Além de orgulho carnal, isso é um atraso para a vida de qualquer crente.


O princípio de Maria, que optou por assentar-se aos pés de Jesus, deve ser um modelo para nós, na leitura da Bíblia (Lc. 10.39-40). É a partir disso que fazemos exegese contemplativa para a alma. Como temos falado, estudar a Bíblia é algo muito prazeroso e importante para todos nós. A Bíblia mesmo nos incentiva a sempre lermos a palavra do Senhor, simplesmente para conhecê-lo.

O salmista diz com clareza: “Guardo no coração as tuas Palavras para não pecar contra ti.” (Sl.119.11). “E de que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.” (Sl.199.9). Veja o que diz o Salmo 1 sobre isso: Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita de dia e de noite. É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera! ( Salmo1.1-3)


Cremos, como cristãos, que a Bíblia foi Inspirada por Deus e que tem autoridade por ser a Sua revelação. Neste sentido, cremos piamente que a Bíblia tem a palavra final no que tange à Ortodoxia (Doutrina) e também à Ortopraxia (a prática da vida cristã). Os cristãos sinceros não podem abrir mão disso.


Na estrutura doutrinária reafirmamos com clareza, a posição firme dos reformadores, no que tange ao ensino bíblico, para isso admitiu e transmitiu as verdades da nossa tradição eclesiástica: “Sola Scriptura, Sola Christi, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Glória.” São esses cinco termos latinos que devem sintetizar a nossa fé, que veremos a seguir.


Sola Scriptura (Somente a Escritura)


Segundo Heinrich Heppe, a Sagrada Escritura é única fonte e norma para todo o conhecimento cristão. Da mesma forma, advogamos que a base dos nossos ensinamentos é, e sempre será, a Escritura Sagrada, que está acima da tradição, da razão, do pragmatismo, da cultura, acima de tudo. O cristão autêntico deve sempre ser dirigido pela palavra de Deus.


Com Sola Scriptura queremos afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus, que ela é inerrante, infalível e que tem autoridade em tudo. Essa doutrina é importante para a purificação, crescimento e preservação da igreja. Segundo a Declaração de Cambridge, “...a obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para a nossa salvação do pecado e é o padrão pela qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.


Solo Christi (Somente Cristo)


Cremos piamente que somente Cristo Jesus, o Filho de Deus, pode salvar o homem (Jo. 3.16), que não existe mais ninguém que possa mediar o homem a Deus (ITm. 2.5), nem justificá-lo, se não for Cristo, o Senhor (Rm. 5.1), pois somente ele e mais ninguém é o Caminho a Verdade e a Vida (Jo.8.33). É preciso que entendamos que somente ele e mais ninguém pode perdoar os nossos pecados (Jo. 1.29) e nos dar vida eterna (Jo.1 0.10).


A Declaração de Cambridge conclui: “Por isso reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai”.


Sola Gratia ( Somente a Graça)


É a Doutrina da Graça na Bíblia, que aponta todos os méritos para Cristo. Com a sola gratia queremos afirmar, como igreja de Cristo que a salvação do homem pecador é obra exclusiva da graça de Deus. O homem pecador não tem poder para se salvar e nem para viver de maneira bíblica, neste mundo.


Como sublinha a Bíblia em Tito 2.11, somente Deus pode ofertar isso para o homem: “Por que a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens”. A Bíblia também diz em Efésios 2.8-9 o seguinte: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; dom de Deus não vem de obras, para que ninguém se glorie”.


Sola Fide (Somente a Fé)


É pela graça de Deus que somos justificados, mediante a fé em Cristo Jesus. A fé é um dom de Deus, como diz a Bíblia em Romanos 1.16.17 “Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé”.


A fé salvífica é uma confiança plena no sacrifício de Jesus Cristo por mim, logo, eu obedeço a ele e me sujeito a ele, pois justificado através d’Ele eu vivo de fé em fé. É importante dizer também que a fé não é um sentimento vago. O homem não pode ser salvo se ele não crer inteiramente no sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef.2:8-9).


Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória)


Cremos que o único que pode receber toda a glória é somente Deus (Mt. 5.16; I Cor.10.31; Ef.3.21); que o homem é um ser que glorifica a Deus e não um ser que recebe a glória (Rm. 15.5-6; I. Cor.3.21).


O humanismo tem colocado o homem num patamar que a Bíblia não coloca (Jr. 9.23-24). A Bíblia deixa claro que Deus é o único que pode receber toda a glória (Sal. 29.1; Lc. 2.14; Rm. 11.36), pois tudo vem das Suas mãos — Tanto a graça comum (Sl. 19.1; Mt. 5.45) quanto a graça salvífica (I Co. 6.20).


O breve Catecismo de Westminster (1647) sublinha: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo para sempre. “O próprio Jesus Cristo definiu a sua vida e ministério dizendo: Eu te glorifiquei na terra” (Jo. 17.4) É assim que deve ser a igreja, que é fiel a Deus: "Ela deve glorificar a Deus em tudo".



Carlos Augusto Lopes é pastor, teólogo e pensador cristão, tem dedicado o seu ministério no campo teológico e no ensino bíblico. Ele e sua esposa Cida Lopes servem ao Senhor na igreja ADI em Tubarão Santa Catarina.



Pastores Sem Fronteiras

"Nas Coisas Essenciais, Unidade

Nas Coisas Não essenciais, liberdade

Em Todas as Coisas, Amor"



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